CASA BRANCA DO ENGENHO VELHO

Casa Branca do Engenho Velho

Sociedade São Jorge do Engenho Velho ou Ilê Axé Iyá Nassô Oká é considerada a primeira casa de candomblé aberta em Salvador, Bahia. Constituído de uma área aproximada de 6.800 m², com as edificações, árvores e principais objetos sagrados. É o primeiro Monumento Negro considerado Patrimônio Histórico do Brasildesde o dia 31 de maio de 1984. A história da Casa Branca do Engenho Velho foi contada na III Conferência Mundial da Tradição dos Orixás e Cultura, realizado em Nova Iorque, pelo representante oficial da Casa Branca, José Abade de Oliveira, Ótun Olu K'otun Jagun.


Ilê Axé Iya Nassô Oká / Terreiro da Casa Branca


No período da escravidão no Brasil, os negros formavam suas comunidades nos engenhos de cana. Na Bahia, princesas, na condição de escravas, vindas de Oyó e Keto, fundaram um centro num engenho de cana. Depois se agruparam num local denominado Barroquinha, onde fundaram uma comunidade de Nagô Ilè Asé Airá Intilè também conhecida como Candomblé da Barroquinha, que segundo historiadores, remonta mais ou menos 300 anos de existência, dentro do perímetro urbano de Salvador. Sabe-se que esta comunidade fora fundada por três negras africanas cujos nomes são: Adetá ou Iyá Detá, Iyá Kalá, Iyá Nassô e Babá Assiká, Bangbosè Obticô.


Os africanos que se encontravam alí, lugar deserto naquela época, porém próximo ao Palácio de sua Real Majestade, tiveram receio da intervenção das autoridades no seu Culto, daí, Iyá Nassô resolveu arrendar terras do Engenho Velho do Rio Vermelho de Baixo, no trecho chamado Joaquim dos Couros, lugar onde se encontra até hoje, estabelecendo aí o primeiro Terreiro de Culto Africano na Bahia. A Iyá Nassô, sucedeu Iya Marcelina da Silva. Após a morte desta, duas das suas filhas, Maria Júlia da Conceição e Maria Júlia Figueiredo, disputaram a chefia do candomblé, cabendo à Maria Júlia Figueiredo que era a substituta legal (Iya Kekeré) tomar a posse de Mãe do Terreiro. Maria Júlia da Conceição afastou-se com as demais discidentes e fundaram outro Ilé Axé, o (Terreiro do Gantois).


Substituiu Maria Júlia Figueiredo na direção do Engenho Velho, a Mãe Sussu (Ursulina de Figueiredo). Com a sua morte nova divergência foi criada entre suas filhas, Sinhá Antonia, substituta legal de Sussu, por motivos superiores não podia tomar a chefia do Candomblé, em consequência o lugar de Mãe foi ocupado por Tia Massi (Maximiana Maria da Conceição). Vencendo o partido da Ordem, dissidentes inconformados fundaram então uma outra Ilé Axé, o (Ilê Axé Opô Afonjá).


Maximiana Maria da Conceição, Tia Massi foi sucedida por Maria Deolinda, Mãe Oké. A direção sacerdotal do Engenho Velho foi posteriormente confiada à Marieta Vitória Cardoso, Oxum Niké, recentemente desaparecida. Atualmente, assumiu a chefia da Casa, a Iya Lorixá Altamira Cecília dos Santos, filha legítima de Maria Deolinda dos Santos, carinhosamente chamada de "Papai Oké".


O Terreiro

O Terreiro é de Oxossi e o Templo principal é de Xangô. O Barracão que tem o nome de Casa Branca, é uma edificação alongada com várias divisões internas que encerram residências das principais pessoas do Terreiro, como também espaços reservados aos quartos de Orixás, quarto de Axé, Salão onde se realizam as festas públicas, bem como a cozinha onde se preparam as comidas sagradas. Uma bandeira branca hasteada no Terreiro indica o carater sagrado deste espaço. No telhado do Barracão, símbolos de Xangô identificam o Patrono do Templo. O terreno fica situado numa encosta que se estende até uma cota de 30.00m com declividade de 30%, no lado direito da atual avenida da Gama, no sentido de progressão para o Rio Vermelho, entre as Ladeiras Manoel do Bonfim e do Bogun, na Unidade Espacial C-5 em Salvador - Bahia. Ocupa uma área de 6.000m². Em redor do Barracão existem várias casas de Orixás.


Situação atual
No iníco, as atividades do Ilé Axé sofreram perseguições da Sociedade e por parte da Polícia. Já no período da República, o candomblé fora proibido de exercer as suas atividades e os Terreiros ficaram subjugados à Delegacia de Jogos, Entorpecentes e Lenocínio. Hoje porém a situação é diferente. Existe na Prefeitura de Salvador, o Projeto Mamnba da Pro-Memória, sob a direção do Antropólogo Ordep José Trindade Serra, cujo objetivo é proceder o Mapeamento de Sítios e Monumentos Religiosos Negros na Bahia. Em 14 de junho de 1986, o Ministério da Cultura, a Prefeitura Municipal de Salvador e o Ministério da Relações Exteriores, em conjunto lançaram oito postais sobre a Ilé Axé Iya Nassô Oká e a revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional publicou - A Coroa de Xangô no Terreiro da Casa Branca - em separata do número 21/1986. Chegou então a hora da proteção a todos os Terreiros de Candomblé do Estado. Língua yorubá nos Currículos de 1º e 2º graus. Diante da solicitação da Socidade Beneficente São Jorge do Engenho Velho, conforme fundamentação e comprovação firmada pelo presidente, Sr. Antonio Agnelo Pereira, cultor de etnografia afro e diplomado em Língua Yorubá pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, o Conselho Estadual de Educação aprovou introdução da Língua yorubá nos Currículos de 1º e 2º Graus nos Colégios de Rede de Ensino do Estado. O Ilé Axé Iya Nassô é o 1º Templo de Culto Religioso Negro no Brasil - Casa Branca do Engenho Velho.
Sacerdotisas
- Iyá Nassô Oyo Akalagmabo Olodumare
- Marcelina da Silva - Oba Tossi
- Maria Julia Figueiredo de Oxum - Omó Niké
- Ursulina de Figueiredo - Mãe Sussu
- Maximiana Maria da Conceição - Tia Massi - (Iwuin Funké) cujas grandes auxliares foram Luzia de Oxum (Oxum Muiuá), Eugênia de Oxóssi e Teté de Iansã (Oya Tumkecy, a Iyá kekeré, falecida em 2006).
- Maria Deolinda dos Santos - Papai Oké - Iuindejá
- Marieta Vitória Cardoso - Oxum Niké
- Altamira Cecília dos Santos - Mãe Tatá- Oxum Tomiuá (filha consanguinia de "Papai" Oké) - e Areonite da Conceição Chagas - Mãe Nitinha de Oxum - Oloxundê -, Iyá kekeré, Iyá Tebexê e Oju Odé do terreiro, além da decana do terreiro em tempo de sacerdócio, falecida em 3 de fevereiro de 2008. Mãe Nitinha também era a Iya Agan do terreiro Ilê Babá Agboulá em Itaparica (Amoreiras) conhecido por "Bela Vista", embora não tenha confirmado este posto religioso.
Calendário de festas
As obrigações religiosas da Ilé Axé começam no fim de maio ou princípio de junho com a Festa de Oxossi. No dia de Corpus Christi tem a tradicional Missa de Oxóssi.
- A Festa de Ayrà tem lugar a 29 de junho.
- Na última sexta-feira de agosto, realiza-se a Cerimônia da As Águas de Oxalá, seguindo-se os três domingos consecutivos, nos quais se festeja Oduduwa no primeiro, Oxalufon no segundo e a Festa do Pilão em homenagem a Oxaguian, no último domingo.

- Na segunda-feira imediata, festeja-se Ogum e na seguinte Omolú.

- Havendo no entanto, um espaço para iniciação de novas filhas, prossegue as festas em louvor a Yansã, Xangô, Festa das Iabás e Oxum, terminando o ciclo festivo no final de novembro.
- O X Alaiandê Xirê Ipade Lomin - Encontro das Águas na Avenida Vasco da Gama, aconteceu de 15 a 18 de novembro de 2007 na Casa Branca do Engenho Velho, devendo retornar ao referido terreiro na 12ª edição, em 2009.
Dados fornecidos pelo Correio da Bahia.

Comentários

carlo alberto disse…
Sou neto de Ya Regina Bamgbose ,filho de Maio Sergio de Yemanja Ogunté,sou feito á 18 anos de Babalojgbe com Yemanja Ogunté.E gostei muito dessa reportagem que fala sobre Casa Branca,Parabens!
Mauricio Silva disse…
Parabéns pela reportagem.Gostaria de saber como em tempos de intolerância religiosa, sobretudo com o aumento de evangélicos na politica como esse importante terreiro tem enfrentado as manifestações de preconceito por parte dos contrários a religião.
Sou de São Paulo e tenho interesse de saber como isso está ocorrendo ai na Bahia.
Unknown disse…
Motumbà ... feliz em ver estampado no seu blog,de forma belíssima por sinal,a história de meus ancestrais ... da minha gente ... do meu povo ... Mojubà

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